- 22 de December de 2020
- Agribusiness
A transformação digital e a sustentabilidade no agro
A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que a população mundial atingirá, em 2050, 9,7 bilhões de pessoas. Assim, a agricultura tem o desafio de alimentar esse número crescente de habitantes sem agredir ainda mais o meio ambiente. O agronegócio brasileiro tem ajudado muito nessa árdua tarefa de alimentar este enorme número de pessoas, mas, por outro lado, também duplicou a emissão de gases do efeito estufa nos últimos 50 anos. Dito isto, é inegável que precisamos encontrar formas mais sustentáveis de produção agropecuária.
Já faz algum tempo que o agronegócio brasileiro tem alavancado a economia nacional, com seus números expressivos, tanto em quantidade como em qualidade, e exportação de produtos agrícolas, seja de produtos animais ou vegetais. Entretanto, um assunto que tem chamado a atenção do público nacional e internacional refere-se muito mais aos impactos negativos ao meio ambiente gerados pelas atividades da agricultura nacional, que passam a falsa impressão de que toda a cadeia de produção agrícola brasileira esteja indiferente aos seus impactos no meio ambiente.
Em tempos em que grande parte dos assuntos destacados internacionalmente se referem às mudanças climáticas, excesso de queimadas, poluição das águas, entre vários outros temas que afetam o nosso meio ambiente, é importante destacar que a agricultura nacional não é indiferente a estes importantes tópicos. Especialmente porque ter uma reputação de que o país é indiferente a temas ambientais tem o forte poder de criar barreiras à entrada de produtos agrícolas nacionais em mercados internacionais — que, por sua vez, é de grande importância aos produtores nacionais.
Ou seja, o tema da sustentabilidade no agronegócio é de grande importância, tanto econômica como ambiental, a toda a sociedade. E o que é a sustentabilidade na agricultura? Sustentabilidade na agricultura seria aumentar a produção de alimentos e melhorar a segurança alimentar, adotando práticas responsáveis e que respeitem o meio ambiente.
Um dos fatores que podem auxiliar, e muito, na melhora da sustentabilidade do agronegócio brasileiro é o uso das tecnologias de transformação digital no campo. Existem várias tecnologias que estão sendo implementadas no agronegócio brasileiro e que permitem melhorar, analisar e atuar nos vários aspectos ambientais da produção agrícola, tendo tanto efeito ambiental, como em termos de qualidade e produtividade do agronegócio como um todo.
Uso mais racional dos recursos naturais, diminuição da aplicação de químicos e aumento da eficiência da sua aplicação (evitando operações desnecessárias), racionalização das operações do campo, monitoramento das condições das culturas e rebanhos, entre outros itens, são várias das aplicações que podem ser trazidas ao campo para melhor a sua sustentabilidade.
Tecnologias que agregam na produção e na sustentabilidade do campo
Com a atual transformação digital do agronegócio, o que podemos notar é que várias tecnologias digitais estão sendo utilizadas no campo. A priori, o intuito dessas práticas é utilizar recursos de forma mais eficiente, buscando melhorar a qualidade da produção agrícola.
Listamos abaixo algumas das tecnologias em uso e que, de alguma forma, buscam a utilização melhor dos recursos e que fazem parte da transformação digital do agro.
IoT e os sensores
A Internet das Coisas (ou IoT, Internet of Things) — uma das tecnologias que conecta os mais diversos itens à internet para estabelecer comunicação não só entre eles, mas com usuários —, juntamente com os seus sensores, é um dos principais focos da transformação digital na agricultura. Entretanto, mais do que simplesmente conectar o campo, esta tecnologia demonstra grande potencial para melhorar a sustentabilidade das culturas agrícolas.
Com a Internet da Coisas, é possível, por exemplo, monitorar os níveis de umidade do solo e acionar meios de irrigação automaticamente, mas apenas quando a cultura plantada realmente tem necessidade de irrigação. Ao mesmo tempo, quando se inicia a irrigação, ela fornece apenas a quantidade necessária de água para o desenvolvimento das plantas.
Em termos de sustentabilidade, esse tipo de aplicação de IoT permite utilizar apenas os níveis de água necessários para o bom desenvolvimento das culturas. Assim, uma solução como essa permite o fornecimento de água necessária às plantas e evita o desperdício de água, importante recurso natural.
IoT pode ser utilizada em vários outros cenários, a fim de melhorar sustentabilidade da produção. IoT em um galinheiro, por exemplo, poderia detectar a falta de água ou alimento e, assim, acionar sistemas que liberem mais ração e/ou água. Além disso, uma solução como essa pode dar apoio ao controle das condições de qualidade do ar do galinheiro, analisando e detectando problemas em diferentes variáveis (como excesso de CO2, umidade entre outros). Sensores que monitoram as condições dos animais em uma pastagem, por sua vez, podem alertar sobre problemas de saúde ou nutrição de animais.
IoT também pode ser aplicada à detecção de condições adversas no campo, emitindo alertas quando há detecção de fogo ou nível de umidade do ar excessivamente baixa (que permite maiores condições a incêndios). Outros tipos de soluções utilizam IoT na detecção de pragas online na lavoura, com a programação para que a pulverização de produtos defensivos só seja efetuada após um certo nível de infestação à cultura ser detectado. Nesse tipo de uso, evitam-se pulverizações desnecessárias e, consequentemente, diminui-se a quantidade de produtos lançados.
Agricultura de Precisão
O conceito de agricultura de precisão é a utilização de tecnologia que leve em consideração a percepção das diferenças do ambiente e propicie otimização no uso de insumos (fertilizantes, agroquímicos, água, energia e sementes), gerando ganhos na produtividade e qualidade da produção e buscando equilíbrio ambiental.
Entre exemplos da agricultura de precisão, temos máquinas que conseguem executar a correta aplicação de fertilizantes ou defensivos e que são capazes de se adaptar às diferentes condições do ambiente. Por exemplo, um equipamento que consegue aplicar a dose correta de fertilizante nas mais diferentes condições do campo, seja em solos mais arenosos ou mais condensados, geralmente utilizando sensores para colher informações sobre o estado do solo.
Um outro exemplo de agricultura de precisão são máquinas capazes de detectar a presença de plantas daninhas durante a aplicação e apenas pulverizem o produto químico quando algum sensor acoplado à máquina detecta a presença das plantas daninhas. Com esse tipo de equipamento, é possível evitar que o produto seja aplicado em locais no campo em que não existam as plantas invasoras e manter a saúde da cultura.
Ou seja, a agricultura de precisão tem um importante papel na melhoria da sustentabilidade do agronegócio, pois permite evitar a aplicação desregulada de produtos sobre a plantação. A aplicação descontrolada de defensivos agrícolas vai fazer com que o excesso de produto acabe indo para os rios ou para o lençol freático e, com isso, causar impactos ecológicos que poderiam ser evitados, ou pelo menos atenuados.
A agricultura de precisão ainda possui grande potencial a ser explorado. Outros exemplos de soluções de agricultura de precisão que podem ser interessantes para a melhoria da sustentabilidade na produção agrícola são: máquinas que semeiam e são capazes de garantir a quantidade correta de sementes por metro quadrado; e colheitadeiras mecanizadas cada vez mais eficientes (precisas), que causam menor estrago à plantação no processo de colheita.
Data Analytics
Data Analytics é o processo de analisar informações (dados) com um propósito específico — isto é, pesquisar e responder perguntas com base em dados e com uma metodologia clara. Assim, Analytics funciona como a utilização da matemática e informações estatísticas extraídas pela análise de dados que permitem segmentar, agrupar ou dar notas aos diferentes cenários e predizer quais deles são mais prováveis.
Em agronegócios, Data Analytics é uma técnica de Análise os Dados extraídos do campo, procurando detectar correlações e tendências. Com a análise de dados do campo, é possível predizer e tentar entender o comportamento de suas variáveis.
Como exemplo, podemos ter um Data Analytics dos dados do solo de uma cultura — claro que, para isso, é necessário realizar uma coleta de dados históricos anteriormente. Com essa análise, é possível entender o impacto das diferentes ações no solo, como umidade, nível de nutrientes, material orgânico. A partir desses dados, é possível realizar tarefas que agridam e interfiram na dinâmica da terra minimamente.
Dessa forma, Data Analytics é uma importante ferramenta de auxílio na manutenção das boas práticas ambientais, baseando-se em informações do campo e predizendo quais os manejos corretos e mais adequados para cada situação.
Mercado de Carbono
Um dos vilões que provocam as mudanças climáticas é o gás carbônico presente na atmosfera. As emissões de gases poluentes provocam o efeito estufa e aceleram o processo de aquecimento global. Enquanto máquinas e carros emitem gás carbônico, plantas trabalham no caminho inverso, capturando o carbono durante fotossíntese e lançando oxigênio na atmosfera.
Os mercados de carbonos são iniciativas de comercialização de créditos de redução de emissão dos gases de efeito estufa. Cada crédito corresponde a uma tonelada de carbono equivalente que deixou de ser emitida ou que foi absorvida por um sumidouro (algo que consuma o carbono). O carbono equivalente é um parâmetro que expressa o potencial de aquecimento global de um gás do efeito estufa, ou seja, qual a quantidade de CO2 que causa a mesma retenção de calor na atmosfera.
Um mercado de carbono no agronegócio premiaria as ações de produtores que busquem técnicas sustentáveis de produção, com uso mais eficiente de recursos naturais (água, solo, material orgânico), ao mesmo tempo que utilizam de técnicas mais sustentáveis no uso de máquinas, defensivos e fertilizantes. Utilização de práticas como queimadas, uso indiscriminado de químicos, destruição de matas nativas certamente levariam a punições em termos do mercado de carbono.
Dessa forma, a tecnologia seria um dos parâmetros tanto para a criação deste mercado como nas técnicas para verificação de que as ações sustentáveis estejam de fato ocorrendo. Um dos desafios atuais é contabilizar efetivamente a economia de quantidade de carbono que deixou de ser emitida. Diferentes tecnologias, através de sensores ou mapeamento da atividade do campo, podem auxiliar também nesse cálculo da quantidade de carbono que deixou de ser emitida em cada atividade.
Blockchain
A tecnologia do Blockchain funciona como um livro de razão, no qual todas as informações e transações podem ser registradas com bastante segurança e cujos registros não podem ser modificados. Dessa forma, no agronegócio, ela pode ser utilizada para rastrear a origem e todas as etapas da produção de uma cultura, além de todo o caminho percorrido até chegarem ao consumidor final.
Ou seja, a utilização do Blockchain, por si só, traz grandes benefícios em termos de rastreabilidade e informações confiáveis a respeito de todo o processo de produção. Com respeito à sustentabilidade, o Blockchain permite que os consumidores finais saibam exatamente a origem dos produtos, os procedimentos agrícolas utilizados na produção, o tempo decorrido da produção até chegar às prateleiras, o transporte etc. — ou seja, os consumidores têm acesso a todo histórico do produto.
Embora o Blockchain não afete a produção diretamente, em termos de sustentabilidade, as informações obtidas permitem que os consumidores finais possam tomar decisões de compra levando em consideração qual o impacto ambiental causado pelo produto. Caso o consumidor escolha produtos com processos mais sustentáveis, há um incentivo à melhoria de toda a produção agrícola em termos de sustentabilidade. A tecnologia em si seria uma forma de acompanhamento e avaliação da produção, consequentemente, aumentando ou diminuindo a sua venda, conforme melhores práticas tenham sido utilizadas.
Conclusão
O agronegócio continua forte em sua missão de abastecer o mundo com produtos agrícolas em grande quantidade e qualidade. Entretanto, é cada vez mais importante que a produção agrícola seja feita acompanhada da sustentabilidade do meio ambiente.
As tecnologias digitais estão sendo introduzidas no cenário agrícola, dada à constante evolução da capacidade de processamento das máquinas e, também, pelas novas alternativas de conectividade que gradualmente vão chegando ao campo.
Além deste cenário, um outro fator que vem alavancando o uso da tecnologia no campo é uma mudança de geração dos gestores no campo, incluindo cada vez mais jovens que tiveram acesso à informação e à educação mais digital e que, agora, começam a implementar os conceitos que aprenderam nas fazendas. Essa geração vem com sede de adaptar as novas tecnologias ao campo e, ao mesmo tempo, pensando na sustentabilidade das suas ações.
O Venturus continua acompanhando e trabalhando junto às inovações no campo e também acredita que o desenvolvimento agrícola precisa ser acompanhado de novas tecnologias e que estas novas tecnologias devem ajudar a alavancar a produção, mas contribuindo também para aumentar a sustentabilidade das ações no campo.