- 24 de outubro de 2023
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Blockchain, Computação Quântica e o Brasil: Uma Jornada Rumo à Inovação ou Ficção Científica?
Neste texto, investigamos a viabilidade e os desafios de implementar tecnologias de Blockchain e Computação Quântica no cenário tecnológico brasileiro.
Vivemos um momento de constantes inovações tecnológicas. Olhando para o passado recente, podemos dizer que 2022 foi o ano do Metaverso e 2023, o ano do ChatGPT. É incrível como nos vemos inundados de novas tecnologias e tendências e como elas são cada vez mais onipresentes e até mesmo ubíquas no dia a dia das pessoas.
Hoje em dia, falar de criptomoedas, Blockchain, conectividade 5G no smartphone ou de carros autônomos é cada vez mais comum, quase nem assusta mais a grande maioria do público.
Mas, para chegarmos a esse estado de democratização tecnológica, foi preciso desenvolver as tecnologias. Se antes tínhamos a imensa maioria de novas tecnologias sendo criadas e desenvolvidas dentro dos Estados Unidos, hoje, o cenário de globalização traz uma série de novos players, como China, Europa, Coreia do Sul e Índia.
Propositalmente não incluo o Brasil nessa lista, pois estamos um pouco longe de podermos nos comparar a esses países. Não nos faltam talentos, mas estrutura e financiamento, com certeza!
Neste post, gostaria de destacar duas tecnologias com grande potencial para mudar a economia e a sociedade nos próximos anos: Blockchain e Computação Quântica.
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As duas, na verdade, se encontram em situações bem distintas, mas também possuem similaridades quanto ao seu grau de desenvolvimento no Brasil. Vamos destacar esses pontos, aspectos legais e regulatórios; possíveis cenários, aplicações e ideias de como podemos tornar o Brasil um destaque nessas tecnologias.
Blockchain
O Blockchain, apesar de já ter mais de 20 anos, até hoje é considerado uma tecnologia emergente e promissora. Ele estourou mesmo em 2017 e 2018, anos em que Bitcoin estava muito bem cotado (tanto em valor quanto no interesse público) e se mantém em alta até hoje.
Apesar de parecer complexo, o conceito do blockchain é simples: trata-se de uma cadeia de blocos que guarda todo o histórico de transações. Ele funciona de forma distribuída e segura, eliminando a necessidade de uma entidade central de controle.
Seu potencial é simplificar e garantir novas maneiras de rastreabilidades, de contratos, criptomoedas, ativos digitais, entre outros. Para saber mais, vale a pena ler esse post educativo do Venturus sobre blockchain.
Computação Quântica
A Computação Quântica, por sua vez, é bem mais complexa. A computação tradicional se baseia no conceito binário clássico de 1 e 0, explicado pela presença ou não de corrente elétrica, por exemplo.
A maioria dos computadores que conhecemos, da época de Alan Turing aos Notebooks atuais, sempre funcionaram pela lógica booleana de “1s e 0s”. Entretanto, essa tecnologia está chegando aos seus limites de performance e não tem mais como evoluir tanto.
A computação quântica, por sua vez, baseia-se nas leis probabilísticas da Física Quântica, ou seja, no estado quântico das partículas subatômicas. As partículas representam a informação como elementos indicados como bits quânticos (qubits). Um qubit pode representar todos os valores possíveis simultaneamente (sobreposição) até o momento da leitura, em que ele colapsa para 1 ou 0.
Os qubits podem ser vinculados a outros qubits, uma propriedade conhecida como entrelaçamento. Algoritmos quânticos manipulam qubits vinculados em seus estados indeterminados, emaranhados — um processo que pode resolver problemas com vastas complexidade combinatória.
Parece difícil, e com certeza é!
Uma das muitas analogias que podemos usar para comparar a computação tradicional à computação quântica é enxergá-las como um jogo de damas e xadrez respectivamente. A diferença está nas possibilidades de cada jogo: enquanto damas possui apenas um tipo de peça que se movimenta em apenas duas direções, o xadrez possui diversos tipos de peças, cada uma com uma movimentação específica.
Nesse contexto, a computação tradicional é mais simples, enquanto a computação quântica funciona de forma mais complexa, exatamente por possuir muito mais possibilidades.
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Cenário Brasileiro
Hoje, temos muitas startups e produtos sendo desenvolvidos no mercado brasileiro com a tecnologia Blockchain. Alguns exemplos dos setores que estão se beneficiando desta tecnologia são:
- Soluções de rastreabilidade para o agronegócio;
- Soluções de criptomoedas no mercado financeiro – um exemplo é o próprio DREX (antigo Real Digital), atualmente em fase de testes;
- Soluções de prontuários eletrônicos e dados de saúde — através de tokenização, eles podem ser disponibilizados com sua integridade mantida.
Se engana quem pensa que blockchain é apenas para criptomoedas.
A Computação Quântica, por sua vez, ainda se encontra em um estado mais incipiente. As grandes Universidades começam a ter linhas de Pesquisa nesse momento, assim como algumas instituições financeiras e grandes empresas de tecnologia, principalmente as Multinacionais.
Entretanto, é interessante notar que ambas as tecnologias sofrem de um problema comum atualmente: falta de mão de obra qualificada.
Blockchain ainda sofre de um outro problema, silencioso e não tão discutido abertamente: dentro da comunidade científica, muitos pesquisadores não acreditam no seu potencial ou questionam sua aplicabilidade. Criptomoedas são tratadas como pirâmides financeiras e o fato de terem um consumo maior de energia no seu processamento, indo contra a economia verde tão defendida e necessária, se torna um argumento contra seu potencial.
Mas o fato é que, desde o seu surgimento, as blockchains melhoraram muito. As novas plataformas baseadas em blockchains não utilizam tanta energia, evoluindo para continuar a serem soluções viáveis futuramente. E muito ainda pode ser feito nesse campo.
Quanto à mão de obra qualificada para a Computação Quântica, sofremos a falta de incentivo dos brasileiros em geral para o STEM — Science, Technology, Engineering and Mathematics, traduzindo para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, as famosas “exatas” ou “ciências duras” (hard sciences).
Para adentrar na Computação Quântica, é preciso uma boa dose de conhecimentos matemáticos e de física quântica, além de lógica de programação. O Brasil ainda precisa melhorar muito nessas áreas, da educação básica à formação de professores, para que os nossos jovens tenham uma proficiência mais do que mínima nessas matérias.
Por isso, é essencial despertar a curiosidade científica e diminuir a evasão escolar, para que os jovens possam se graduar e posteriormente pós-graduar, para o desenvolvimento da Computação Quântica. Uma boa leitura sobre o assunto é o último estudo do British Council com a Fundação Carlos Chagas: https://www.estadao.com.br/educacao/pesquisa-inedita-faz-retrato-do-ensino-de-ciencias-no-brasil-na-ultima-decada/
Outro fator que também preocupa a continuidade da Pesquisa e Desenvolvimento para Computação Quântica é a atual Infraestrutura Tecnológica Brasileira. Não temos, no momento, nenhum Computador Quântico no Brasil.
É verdade que, hoje, temos condições de usar Computação em Nuvem para poder rodar alguns algoritmos. IBM e Google já disponibilizam esse tipo de serviço. Mas isso ainda é pouco para o desenvolvimento de algoritmos mais complexos, pois o custo se torna proibitivo.
Temos que aumentar o nosso Parque Tecnológico, quer seja estimulando a construção de computadores quânticos, como estimulando a criação de mais centros de computação de alto desempenho (HPC), para aí, podermos ao menos, simular computadores quânticos.
Hoje, o Brasil tem 8 computadores de alto desempenho, que é pouco para todo P&D em Inteligência Artificial e Computação Quântica.
Criação de mais linhas de crédito e fomentos para se aumentar esse Parque Tecnológico, assim como estimular parcerias público-privadas e parcerias internacionais seriam boas alternativas para aumentar a quantidade de equipamentos disponíveis.
Mais um fator que preocupa no futuro dessas tecnologias em especial é a questão de aspectos regulatórios e legais. Se a tecnologia hoje voa a velocidades supersônicas, as nossas leis caminham a passos de tartaruga.
A sociedade tende a restringir aquilo que ela não entende. Hoje, por exemplo, temos vários Projetos de Lei dentro do Congresso como a PL2338 — que cuida da Regulação da Inteligência Artificial. Se aprovada do jeito que está, ela pode limitar e inviabilizar a Pesquisa e Desenvolvimento da IA dentro do país.
Questões como proteção de dados, segurança cibernética e conformidade são pontos em comum para Blockchain e Computação Quântica. Se tivermos aspectos regulatórios restritivos, podemos ter mais um empecilho, e dos grandes, para o desenvolvimento dessas tecnologias dentro do país.
O ideal seria sempre se ter uma legislação orientativa, buscando boas práticas ao invés de restritiva quanto ao uso e desenvolvimento de tecnologias emergentes. Países como Canadá e Inglaterra estão fazendo um excelente trabalho na busca de políticas públicas que favorecem ambientes colaborativos de inovação, trazendo vários players para trabalharem juntos como empresas, universidades, institutos de pesquisa e startups, criação de centros de referência, incentivo para projetos em rede com diferentes instituições e parcerias internacionais, entre outros exemplos.
Blockchain e Computação Quântica na prática
A grande questão que o público em geral deseja saber é o que essas tecnologias podem gerar de Aplicações Inovadoras ou o que elas vão realmente resolver. Embora seja um exercício de futurologia, em que os limites da ficção científica e da fantasia se cruzam, podemos pensar, sim, em algumas aplicações interessantes.
O Blockchain vem se consolidando como uma tecnologia fundamental para o mercado financeiro como um todo. Isso porque ela é importante no combate de dois problemas: Falsificação e Fraude.
Com os NFTs, ou “Non Fungible Tokens”, implementados pela funcionalidade de tokenização do blockchain, existe a garantia de autenticidade do objeto ou da pessoa. Logins mais seguros em lojas, garantia de autenticidade de uma peça digital ou física, tudo ficará mais seguro de se determinar a autenticidade.

Como blockchain e computação quântica afetaram nossas rotinas?
Tecnologia e Sociedade
Todas as novas tecnologias deveriam servir para a melhoria da sociedade e do mundo como um todo. A questão de equidade e justiça, que tanto se discute para a Inteligência Artificial, aqui também se faz presente, pois essas tecnologias não podem ser discriminatórias ou apontarem vieses.
Vamos novamente fazer uma hipótese de um uso bem possível da combinação dessas duas tecnologias: o Blockchain, através da Tokenização e dos Distributed Ledgers, pode armazenar de forma segura todo o prontuário de saúde de uma pessoa. Os benefícios são inúmeros:
- Trocar de plano de saúde e trazer seu histórico completo;
- Todos os exames, vacinas, cirurgias, doenças, tratamentos em andamento disponibilizados digitalmente, com acesso instantâneo para médicos.
Uma pessoa que chega desacordada em um Pronto Socorro poderá ter o seu prontuário acessado instantaneamente. Dessa forma, a equipe médica já tem acesso a alergias medicamentos e quais remédios a pessoa toma e o atendimento mais adequado só melhora.
Quantas vidas a mais não poderíamos salvar com isso?
De maneira mais integrada, imagine um algoritmo quântico com acesso a essa base de prontuários de toda a população e capaz de determinar um doador compatível para alguém que está em estado grave, precisando de uma doação de medula óssea quase instantaneamente.
Outra possibilidade: caso aconteça uma nova pandemia, o algoritmo quântico conseguir determinar quais pessoas devem ter um cuidado maior para ficar em isolamento e quais tem menor probabilidade de se infectar. Poderíamos evitar os lockdowns e impactos na economia de uma maneira muito eficiente.
Ideias como essas podem se tornar possibilidades viáveis com a Computação Quântica!
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A Segurança de Dados
Ao mesmo tempo que o impacto positivo que a democratização dessas tecnologias pode causar, não podemos permitir que os dados sejam utilizados de maneira a prejudicar os indivíduos.
Os planos de saúde não poderão utilizar essa base para aumentar os preços dos planos para pessoas mais sujeitas a determinadas doenças, por exemplo. Uma instituição não poderá deixar de contratar uma pessoa por um histórico de saúde do indivíduo.
Essas informações já são protegidas pela nossa LGPD, mas o cuidado aqui é não utilizar essas tecnologias para prejudicar uma faixa da população, desfavorecendo, assim, a equidade dessas tecnologias!
Concluindo
É inegável que Blockchain e Computação Quântica podem trazer avanços para o Brasil e o Mundo que talvez nem consigamos imaginar ainda. Esse artigo teve a intenção de trazer uma luz para essas tecnologias, analisar os impactos e as possibilidades e encorajar as pessoas a começarem estudar os temas!
Sem dúvida, a Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação dessas tecnologias podem trazer um impacto positivo para o Brasil, não só no surgimento de novas empresas e crescimento do PIB, mas como um avanço de qualidade de vida da sociedade.
O Brasil precisa começar a olhar essas tecnologias sob uma perspectiva mais estratégica, com uma visão de planejamento de estado, que com certeza poderá nos levar a um patamar de excelência tecnológica para estarmos juntos com países desenvolvidos liderando a evolução dessas e quem sabe de outras tecnologias emergentes que virão.